O pastor Silas Malafaia tem reiterado, em entrevistas e declarações públicas, que estaria sendo alvo de perseguição por sua atuação religiosa e por “pregar a Bíblia”. No entanto, as investigações que o envolvem não dizem respeito à sua fé ou ao exercício de sua atividade pastoral, mas a suspeitas de participação em articulações voltadas para um golpe de Estado no Brasil.
A Constituição Federal assegura a liberdade religiosa e o livre exercício de culto. Nenhuma investigação atual aponta para qualquer tipo de restrição à pregação bíblica ou à prática da fé. O foco das apurações está nas movimentações políticas que teriam contribuído para ataques às instituições democráticas e para a tentativa de ruptura institucional.
Especialistas em ciência política e direito ressaltam que a estratégia de se colocar como vítima de perseguição religiosa é uma forma de construir narrativa, buscando respaldo entre fiéis e a opinião pública. Ao transformar uma investigação de caráter político e criminal em uma suposta questão de liberdade de culto, cria-se uma cortina de fumaça que desvia o debate do cerne do problema: a ameaça à democracia.
O caso de Malafaia se insere em um contexto mais amplo, em que parte do segmento evangélico alinhado ao bolsonarismo buscou consolidar influência política por meio de discursos religiosos. Para analistas, a mistura entre púlpito e palanque tem potencial de fragilizar tanto a fé quanto as instituições democráticas, já que confunde a defesa de princípios espirituais com a legitimação de projetos de poder.
Portanto, o que está em discussão não é a liberdade de pregação bíblica, mas a necessidade de responsabilização de quem, utilizando sua posição de liderança religiosa, teria atuado para enfraquecer a ordem constitucional. Separar religião e política é essencial para a preservação da democracia e também para a credibilidade das próprias igrejas.
Historicamente, regimes autoritários em diferentes partes do mundo já se apoiaram em líderes religiosos para legitimar seus projetos de poder. Na América Latina, durante as ditaduras militares do século XX, setores religiosos foram utilizados para justificar a repressão em nome da “ordem”. Esse paralelo mostra que a instrumentalização da fé não é um fenômeno novo e reforça a importância de vigilância social para evitar que a religião seja transformada em escudo para práticas antidemocráticas.
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