Quando o Exemplo Vem com Contradição: Presidente da Câmara de Raposa Flagrado Cometendo Infração ao Denúnciar outra

É no mínimo preocupante quando uma autoridade pública, que deveria ser exemplo de responsabilidade e respeito às leis, protagoniza um episódio contraditório como o que ocorreu ontem em Raposa. O presidente da Câmara Municipal, ao tentar denunciar uma suposta infração de trânsito cometida por um motorista que teria sido agressivo com o vereador Luan Martins, acabou cometendo ele mesmo uma infração — e das graves.

O presidente gravou um vídeo enquanto dirigia, usando o celular ao volante. Sim, para apontar o erro de outro, ele infringiu a lei de trânsito que proíbe, com razão, o uso de dispositivos móveis enquanto se conduz um veículo. A pergunta inevitável que fica é: como cobrar respeito à lei se o exemplo vem justamente de quem a desrespeita?

Não estamos aqui negando a gravidade de atitudes agressivas no trânsito. Ao contrário — elas precisam, sim, ser denunciadas. Mas isso deve ser feito com responsabilidade e, sobretudo, dentro da legalidade. Quando uma autoridade usa seu cargo para expor alguém publicamente, precisa ter o cuidado redobrado de não se tornar parte do problema.

Esse tipo de postura é reflexo de uma cultura política ainda impregnada de impunidade e de uma sensação equivocada de que o cargo dá carta branca para agir acima da lei. Não dá. O trânsito é um espaço coletivo, e nele, todos — seja um cidadão comum, seja o presidente de uma Câmara Municipal — têm a mesma obrigação: respeitar as regras.

A situação expõe, mais uma vez, o abismo entre o discurso e a prática. Como cobrar educação no trânsito se o próprio representante do Legislativo local deseduca ao volante? A população está cansada de incoerência. E não adianta justificar um erro com outro. Um infrator não corrige o outro — apenas duplica o problema.

Se há algo a aprender com esse episódio, é que o verdadeiro exemplo começa com autocontrole, respeito e coerência. Que esse vídeo — que deveria servir de denúncia — sirva, na verdade, de alerta para todos: ninguém está acima da lei. Nem quem grava.